Estados e Petrobrás brigam por preço do gás

Publicado en Gás Natural

mapa2013-06-28-10-33-59Uma batalha acirrada vem sendo travada nos bastidores entre os governosestaduais e a Petrobrás. Asfixiados pela falta de gás natural, os Estados, principalmente os do Sul do País, exigem mudanças nos contratos deconcessão das distribuidoras de gás canalizado, consideradosincompatíveis com a realidade da economia brasileira.

O principal foco de insatisfação é a exigência de uma taxa de retornomínimo de 20% para os investimentos realizados pelas concessionárias. A alegação é queisso torna inviável a capilaridade e interiorização da redede gás. Hoje, a Petrobrás é acionista de 19 distribuidoras de gáscanalizado no País.

O descontentamento é tão grande que, segundo apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, ogoverno do Paraná já cogitou a possibilidade de encerrar o contrato de concessão da Compagás, companhia controlada pelo Estado em conjunto com a Petrobrás e a japonesa Mitsui.

Em Santa Catarina, o contrato da SCGás é alvo de contestação do Tribunal de Contas da Estado (TCE), que no fim doano passado concedeu o prazo de 180 dias (até agosto deste ano) para que as inconsistências identificadas fossemsanadas.

Em entrevista ao Broadcast, o diretorpresidente da SCGás, Cósme Pose, reconheceu a necessidade de se discutir alguns pontos do contrato de concessão, tendo em vista que foram concebidos em uma realidade muito diferente da atual condição da economia brasileira.

Segundo uma experiente fonte da indústria de gás, os contratos de concessão das distribuidoras foram assinados noinício dos anos 1990, época marcada pela alta da inflação e risco financeiro mais elevado. Hoje,
com a estabilidade da economia, as condições de rentabilidade para investimentos no País também mudaram.

No Estado de São Paulo, cujo contrato de concessãoo prevê retorno mínimo de 20%, a rentabilidade dos ativos é revista pelo órgão regulador a cada cinco anos. No atual ciclo tarifário, o retorno regulatório foi definido em 9,95%. NoRio, cujas regras são parecidas com as de São Paulo, o retorno proposto pelo regulador para os próximos cinco anos éde 9,84%.

Essa condição explica o porquê de as distribuidoras de São Paulo e Rio liderarem as estatísticas de extensão de rede. Até maio deste ano, os dois Estados concentravam 73% da malha de distribuição do País, cuja extensão é de 23,57 mil quilômetros.

Em comum entre as duas áreas está a forte presença das concessionárias no mercado residencial, que exige grandesinvestimentos na capilaridade da rede.

Residências. Segundo a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado, 1,29 milhão clientesresidenciais têm acesso ao gás em São Paulo e 827,28 mil consumidores no Rio, perfazendo o total de 93% do númerode clientes residenciais no País – nenhuma outra distribuidora tem números semelhantes a esses.

As peculiaridades dos contratoso se resumem ao retorno mínimo. A fórmula de cálculo das tarifas de distribuiçãoconsidera taxa de depreciação (desvalorização contábil por tempo de uso) anual de 10%, o que significa que, em tese, todos os ativos das concessionárias estariam totalmente depreciados em 10 anos. Isso onera a conta de gás paga pelosconsumidores porque as tarifas precisam cobrir o nível de desvalorização
dos ativos. Contudo, a taxa prevista nos contratos contraria o que é praticado hoje nos setores regulados. No processode renovação das concessões do setor elétrico, o governo usou depreciação de 3% ao ano.

“Como os grandes mercados de gás já foram conquistados, as distribuidoras de outros Estados precisam fazer ascontas bem direitinho para tornar os investimentos viáveis“, disse a fonte. No relatório de análise
do contrato da SCGás, os técnicos do TCESC concluíram que a taxa de depreciação de 10% e a rentabilidade de 20% podem tornar inviável a ampliação do atendimento a outras classes de consumidores que não os industriais pelo baixoconsumo de residências e comércios.

Fonte: Valor Econômico

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