Biometano: uso para fabricar vidro avança, mas há gargalos

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A Cebrace, maior produtora de vidro plano da América do Sul, tornou-se um dos principais laboratórios industriais do país para o uso de biometano em escala. Desde maio de 2023, a unidade de Jacareí (SP) abastece seus fornos de vidro float com o gás renovável proveniente de aterro sanitário. Um ano e meio depois, o consumo dobrou, consolidando um padrão tecnológico que tem projeção de expansão: a partir de janeiro de 2026, um novo fornecedor deverá elevar em 20% o volume de biometano utilizado, e a planta de Barra Velha (SC) deverá começar com operações com o combustível em dezembro de 2025, com gás obtido a partir de dejetos suínos. “Estas ações reforçam o nosso compromisso com a descarbonização e com a economia circular”, atestam os diretores-executivos da empresa Wiltson Varnier e Lucas Malfetano.
Os investimentos de pouco mais de R$ 1 milhão, segundo a empresa, foram relativamente modestos, mas o retorno ambiental é perceptível. A Cebrace calcula redução de emissão cerca de 25 mil toneladas de CO2 por ano. A estratégia é substituir gradualmente o gás natural, de origem fóssil, e, sempre que economicamente viável, ampliar a participação do biometano nos fornos industriais.
Porém o entusiasmo empresarial se depara com entraves estruturais no país. A indústria de vidro e cerâmica está entre as que mais consomem calor e gás natural, e a transição para fontes renováveis ocorre em ritmo menor do que o pretendido. “A oferta de biometano vem crescendo no Brasil ao longo dos últimos anos, mas frente à capacidade massiva de consumo de nossa indústria, é preciso que esta expansão continue nos próximos anos para suprir a necessidade do setor”, pondera Varnier. Mesmo sem barreiras técnicas – já que os fornos operam com biometano sem necessidade de adaptação -, o custo e a logística dificultam sua adoção em larga escala.
Lucien Belmonte, presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), diz que a equação ainda não fecha.
De todos os setores industriais, o que mais demanda calor é o do vidro, em torno de 1.350 °C. A transição é tecnicamente viável, mas o biometano não consegue competir ainda com o custo do gás natural, segundo Belmonte. Ele entende que o segmento, que nos anos 1990 substituiu o óleo pesado pelo gás do gasoduto Brasil-Bolívia, agora enfrenta uma transição mais complexa: não apenas energética, mas climática e regulatória. “Hoje é preciso incorporar o custo do carbono. Sem precificação, o combustível verde vira apenas propaganda”, conclui.

Fonte: Valor Econômico

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