A pandemia de covid-19 e a indústria cerâmica

Postado em Revista Aspacer

Vivemos uma crise sanitária sem precedentes para a nossa geração. Atrelada a ela, ao que tudo indica, está em curso, e deve se prolongar por algum tempo, uma crise econômica que tem potencial para impactar de forma muito dura a nossa sociedade, gerando empobrecimento e dificuldade para todos.
Como profissionais ligados a indústria cerâmica, estamos diretamente envolvidos nesse cenário. O que nos compete, nesse momento difícil, é buscar informações de qualidade, devidamente contextualizadas; e trabalhar muito em planejamento.
Informações estão circulando por nossas redes de contato aos montes. Elas devem ser usadas como pedra fundamental para as atividades de planejamento. Dessa forma, a primeira premissa é usar informações que sejam confiáveis; e a segunda é que elas estejam contextualizadas. Além disso, precisamos estar muito atentos à velocidade com que as coisas estão mudando nesses dias, pois o que sabemos hoje pode deixar de estar atualizado amanhã. Nesse sentido, compartilho algumas informações importantes do nosso setor, válidas e contextualizadas para este 08/05, quando escrevo esse texto:
• O Brasil opera com aproximadamente 30% da sua capacidade produtiva de pisos e revestimentos cerâmicos, sendo que no mês de abril esse número chegou a se aproximar dos 10%. A partir do início de maio algumas empresas começaram timidamente um processo de retomada da produção, que segue em lenta evolução;
• Ao que consta, no principal pólo do país (Santa Gertrudes e região), temos 103 fornos ativos, dos quais apenas 29 estão em operação nesse momento. Estima-se que até o final de maio esse número deve aumentar para 35 – 40 fornos, mas essa previsão depende demasiadamente da resposta do mercado e da evolução da situação sanitária no Estado de São Paulo;
• Os fornos foram desligados pelas questões sanitárias envolvendo a pandemia de Covid-19, mas também porque o mercado desaqueceu de forma abrupta nos últimos meses. Em média, as empresas relatam carregamento de produtos da ordem de 30% do que se costumava carregar antes da pandemia;
• Nos principais países do mundo, onde há produção expressiva de revestimentos cerâmicos, as fábricas interromperam suas atividades ao longo do mês de março, motivadas, na maior parte dos casos, por decretos governamentais. Isso ocorreu, para citar alguns exemplos, na Itália, na Espanha e nos nossos vizinhos na América do Sul;
• Na Europa, os principais centros produtores iniciaram processos de retomada de produção a partir da segunda quinzena de abril e início de maio. Na América do Sul, com exceção do Brasil, todas as empresas estão paradas e devem definir o momento da retomada de produção nas próximas semanas;
• A Espanha retomou a produção a partir do dia 13/04. Isso ocorreu por conta da política governamental do país e pelo fato de que a pandemia, embora tenha gerado muitas mortes nesse país, já se encontra na fase decrescente da curva de contágio. Atualmente estima-se que o setor espanhol esteja operando com aproximadamente 50% de sua capacidade produtiva, sendo que existem grupos empresariais que já se encontram com todos os fornos ligados;
• A Itália, seguiu o mesmo rumo dos espanhóis e depois de um longo período de parada iniciou o processo de retomada da produção no dia 03/05, sendo que atualmente estima-se que 90% das empresas cerâmicas estão em operação e que o setor opera com 50% de sua capacidade total de produção.
Em termos de planejamento, cada empresa deve identificar o momento mais adequado para reiniciar suas atividades e com que capacidade de produção a retomada deve ocorrer. Essa decisão é muito particular de cada organização, mas deve levar em consideração uma série de fatores, como decretos governamentais, taxas de recessão medidas e prevista para o país, indicadores do setor de construção civil, etc.
Além disso, esse é o momento de planejar de que forma as atividades devem ser retomadas, no que diz respeito aos protocolos de saúde e segurança. É ilusão acreditar que a atividade econômica só será retomada quando a pandemia estiver totalmente afastada da sociedade. Mas é ilusão, igualmente preocupante, crer que a atividade econômica retornará mediante os mesmos protocolos de segurança e relações de trabalho usualmente adotadas antes da pandemia. Nesse sentido, há muita informação relevante disponível em outros segmentos industriais que já estão operando (ou que não puderam parar porque são atividades essenciais) e em outros países. Essas informações devem ser utilizadas para que as indústrias cerâmicas façam seus planejamentos para a retomada das atividades.
Uso de máscaras e frequência de suas substituições, protocolos de higienização de ambientes, medição da temperatura de funcionários no ingresso às fábricas, aplicação de questionários sobre a saúde dos trabalhadores e de seus familiares, aquisição de testes para avaliar a existência de funcionários infectados, uso de aplicativos de celular que monitoram a distância entre as pessoas na empresa, sistemas de teletrabalho, políticas para a entrada de terceiros na empresa, replanejamento de atividades que envolvem aglomerações, como transporte de funcionários, reuniões, refeitórios, etc. Todas estas medidas estão sendo adotadas com diferentes graus de rigor e sob distintos protocolos em empresas do mundo inteiro. Em meio a tudo isso, é preciso discutir métricas para monitorar a produtividade dos funcionários e das empresas nesse cenário. Como conduzir a operação com a rede de fornecedores e transporte de insumos parcialmente paralisada?
São novos tempos, que nos exigem ainda mais rapidez e assertividade na tomada de decisões. Informação e planejamento se fazem mais importantes do que nunca.

Fonte: FÁBIO G. MELCHIADES

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